terça-feira, junho 30, 2009

Cicatriz

Agora é tarde demais.
Não dá pra voltar atrás.
Já tenho marcas do seu exagero.
Já tenho feridas do seu exaspero.
E as cicatrizes que ficaram sobre a pele terão sempre uma história pra contar.
E as cicatrizes que ficaram sob a pele terão sempre algo pra lembrar.
E as cicatrizes que não ficaram na pele nunca conseguirão falar.
Mas agora não dá pra voltar.
Não dá pra esquecer o passado e esperar que se desfaça no ar.
E o futuro sempre vai ficar manchado.
Será sempre a moldura do nosso retrato.
Mas não será uma moldura qualquer.
Será uma moldura feita pelo homem na mulher.

sexta-feira, junho 26, 2009

Morre um mito, mas seu legado permanecerá!


"Assisti a algumas imagens do velório do Bussunda, quando os colegas do Casseta & Planeta deram seus depoimentos. Parecia que a qualquer instante iria estourar uma piada. Estava tudo sério demais, faltava a esculhambação, a zombaria, a desestruturação da cena. Mas nada acontecia ali de risível, era só dor e perplexidade, que é mesmo o que a morte causa em todos os que ficam. A verdade é que não havia nada a acrescentar no roteiro: a morte, por si só, é uma piada pronta. Morrer é ridículo.

Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente?

Não sei de onde tiraram esta idéia: morrer. A troco? Você passou mais de 10 anos da sua vida dentro de um colégio estudando
fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente. Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu. Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente. De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinqüente que gostou do seu tênis. Qual é?

Morrer é um chiste. Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira. Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu.

Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer. Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas e mulheres magras e morre num sábado de manhã. Se faz check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito. Isso é para ser levado a sério?

Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo. Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas. Ok, hora de descansar em paz. Mas antes de viver tudo, antes de viver até a rapa? Não se faz.

Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero. E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas. Só que esta não tem graça."

Pedro Bial



Esse texto, de autoria de Pedro Bial, tem uma visão muito interessante sobre a morte.
E num momento como esse, de dor por parte dos fãs do provavelmente maior entretainer que o mundo já viu e verá, temos que parar pra refletir.
O legado deixado pelo lendário, muitas vezes controverso Michael Jackson certamente ultrapassará a barreira do tempo, ultrapassará até a barreira da vida.
Morreu Michael Jackson homem, nasceu a lenda.

quinta-feira, junho 25, 2009

O Mundo É Bipolar.


O mundo é bipolar.
Tristeza e felicidade se alternam e se completam.
Mas é apenas mais um canal na sua televisão.
Mais um telejornal sem importância.
E assim caminha a humanidade.
Vista de fora por poetas marginais.
É um teatro que chegou ao clímax sem que ninguém se perguntasse o que acontecerá depois.
Tudo caberia numa página da sua revista favorita, nas bancas de jornal mais próximas.
Mas passamos a página, e passamos o mundo.
Sem nos dar conta da infinidade de olhares atravessando nossos corações.
Gelidamente, chegando a penetrar até na mais profunda sílaba da nossa alma.
Mas é apenas mais um canal na sua televisão,
Seguindo na bipolaridade,
Alternando conquista e frustração.

quinta-feira, junho 18, 2009

Hum...

Eu não estava com vontade de publicar essa produção, mas alguns fatores, entre eles o ego, fizeram com que ela visse a luz do dia. Realmente eu achei o tema meio pesado, e o linguajar meio... nevermind.
Bem, então é isso:


Pois então tu ages como santa.
Iludes tua mãe e orgulhas teu pai.
Eles não se perguntam aonde tu vais quando cai a noite.
Pois bem, nem deveriam.
Afinal, és a menininha de teu pai.
Afinal, és o bibelô da casa.
Mas naqueles lugares onde deixastes tua inocência repousa algo que se alimenta dela.
E o que restou dela tu não irás conseguir retomar.
E ficarás nesse estado de dançar por redenção.
Dançando nesses lugares sujos.
Rezando por amor e pagando por prazer.
E é num ambiente assim que teus pais nunca jurariam te encontrar.
Não a menininha deles.
E o desconhecido se aproveita de teus serviços.
Num quarto pequeno e escuro tu finges enquanto ela sua.
E tua vida não passa de um baile de máscaras.
Mas a dança é interminável, e a música pode ser tocada apenas com uma nota.
Pedes perdão por teus pecados, pois sabes que tua vida está descendo uma ladeira inacabável.
E o que preenche teu interior não vai preencher o vazio da tua alma.

sexta-feira, junho 12, 2009

Não apague a luz...


Deixe a luz acesa quando sair.
Se você vai embora, não quero ficar sozinho no escuro.
Mas não é do escuro que eu tenho medo.
Eu tenho medo de ficar sozinho.
E um pouco do escuro.
Portanto, deixe a luz acesa quando sair.
Deixe acesa o que pode ser seu último vestígio por aqui.
Mas isso não quer dizer que eu quero que você saia.
Só que eu não quero ficar no escuro.
Nem quero ficar sozinho.
Não quero ficar sozinho no escuro.
E lembre de não trancar a porta, porque assim é mais fácil voltar.

quinta-feira, junho 11, 2009

Ode ao clichê.

Vamos desistir quando ficar difícil, pois é isso que as pessoas fazem.
Vamos à praia em finais de semana ensolarados, disputar lugar com os outros banhistas.
Vamos agir igual a ovelhas em um rebanho. É isso que considera-se normal.
Vamos assistir a um bom suspense, e a culpa será do mordomo.
Vamos ser revolucionários, e nem saberemos que posição assumiremos.
Vamos entrar em confronto com nossos ideais, só para que todos nos aceitem.
Vamos esperar sempre pelo Papai Noel na noite de Natal. Mas ele não virá.
Vamos fugir do assassino como num filme B de terror, mas ele sempre nos achará.
Vamos mandar flores, já que o cavalheirismo nao morreu.